
Fístula arteriovenosa dural (FAVD)
No cérebro observamos um tipo especial de coletor venoso, chamado de seio dural. Os seios durais estão presentes nas meninges (membranas que revestem o cérebro), especificamente na mais espessa delas, a Dura mater. Eles recolhem o sangue proveniente das veias do cérebro e da orbita ( cavidade que abriga o olho).
Quando conexões anormais e diretas ocorrem entre as artérias da dura-mater e os seios durais, chamamos esta condição patológica de fístula arteriovenosa dural. Essa comunicação eleva a pressão no interior dos seios venosos acometidos (a semelhança do que acontece com as veias nas malformações arteriovenosas- vide sessão), podendo causar refluxo de sangue sob pressão para as finas veias cerebrais que antes drenavam para essas estruturas, causando risco de hemorragias cerebrais, edema (inchaço) cerebral, crises epilépticas.
Em sua maioria as FAVD são adquiridas e costumam estar associadas a trombose de seios durais, pós operatório de neurocirurgia, cirurgia bariátrica, traumatismo craniano, e doenças que aumentam a coagulação.
Quais são os sintomas da FAVD?
Os sintomas variam a depender da localização do seio venoso acometido, que reflete sua proximidade com outras estruturas e determina quais veias estão envolvidas.
Por exemplo: Nas FAVD do seio cavernoso ( seio venoso que se localiza na base do crânio atrás de cada olho) que em situação de normalidade drenaria as veias provenientes do olho, pode haver comprometimento da acuidade visual, inchaço congestão e vermelhidão ocular e ocasionalmente alteração da mobilidade ocular.
Nas de FAVD dos seios transverso e sigmoide que se localizam em proximidade e atrás das orelhas, os pacientes referem um zumbido ou ruído pulsátil, tipo panela de pressão ou locomotiva, causado pelo aumento do fluxo sanguíneo nessas estruturas próximas ao ouvido.
A dor de cabeça e convulsões também podem estar presentes. A manifestação mais grave e temida das FAVDs são as hemorragias cerebrais, cujo risco não se associa a gravidade dos sintomas mas sim a presença de fluxo do sangue sob alta pressão dos seios venenosos para as delicadas veias cerebrais. Assim uma hemorragia cerebral pode ser o primeiro sintoma de uma FAVD.
Como e quando tratar uma Fístula arteriovenosa dural?
O planejamento do tratamento é feito após a realização da angiografia cerebral, que é o padrão ouro para avaliação detalhada dessa condição.( vide sessão angiografia cerebral). Observando-se refluxo de sangue do seio venoso acometido para as veias cerebrais, ao que chamamos de “refluxo venoso cortical”, o tratamento endovascular por embolização deve ser realizado. Como discutido acima essa situação compromete a drenagem do sangue cerebral, com risco de AVC hemorrágico.
Comprometimento visual é indicativo de tratamento, que também deve ser considerado naqueles pacientes com incapacidade de tolerar os sintomas, como zumbido pulsátil.
Em casos pouco ou assintomáticos, sem refluxo sanguíneo para veias corticais a observação e acompanhamento podem ser uma escolha.
Embolização de fistula arteriovenosa dural
A embolização é um procedimento minimamente invasivo no qual delicados e macios tubos flexíveis chamados microcateteres são guiados com auxílio de imagens obtidas por raio X até a fístula arteriovenosa dural. Através desses microcateteres são injetadas colas especiais ( agentes embolizantes) ou micromolas de platina para oclusão das comunicações anormais entre as artérias e os seios venosos.
O procedimento é realizado sob anestesia geral e ao contrário da cirurgia não necessita de cortes na cabeça, aberturas no crânio ou manipulação do tecido nervoso.